Pit Stop
Enfim férias. Um primeiro semestre muito diferente e excitante. Comecei o curso técnico em Cozinha na Etec Santa Ifigênia, a coluna semanal de Gastronomia no Portal G7 News e ainda voltei a fazer workshops de whisky. Gratificante, mas confesso que exigiu muito empenho e dedicação, por isso estava mais do que esperando minhas tão amadas férias. Tive oportunidade de conhecer o Chile, um país perto de nós mas com uma cultura muito diferente. Foi uma experiência enriquecedora e bem divertida para minha família e para mim. Sendo assim, não podia me furtar a oportunidade de escrever um texto sobre essa experiência, com os olhos mais voltados para a culinária e gastronomia local.
Culinária Peculiar
O Chile tem uma culinária bem característica e diferente da nossa. Aqui vou plagiar a frase do querido guia Mathias que disse: “a comida chilena é algo que você precisa se acostumar. Ela tem um sabor muito peculiar. É como provar comida japonesa pela primeira vez: você estranha um pouco, mas se estiver de mente aberta, aprenderá a apreciar seu sabor”.
Concordo plenamente. Alguns exemplos de misturas inusitadas: Frutos do mar no mesmo prato de frango cozido, linguiça e porco. Outro exemplo, misturar uma espécie de polenta mole e doce com pedaços de frango. E ainda uma bebida de pêssegos com trigo. Mais peculiar impossível.
Real x Pesos
Peculiar mas caro! Comer no Chile está muito caro. Meu entendimento é que há um efeito combinado entre a desvalorização de nossa moeda frente ao dólar e a comida chilena ser mais cara que em outros locais da América do Sul. Esse segundo fator tem uma certa influência geográfica. O Chile, que é o país mais sísmico do mundo, tem um terreno irregular e muitas vezes exige uma técnica de plantio e irrigação mais sofisticada, chamada terraceamento.
Esse sistema foi inventado pela civilização Inca, não somente para conservação do solo contra a erosão, mas também para a ampliação dos espaços agricultáveis, pois a Cordilheira dos Andes dispões de poucas áreas planas. O assunto sobre custo de alimentação varia de período para período, ou seja, pode ser que daqui seis meses por exemplo, comer no Chile seja mais caro ou mais barato para os brasileiros. Apenas para passar uma fotografia do que encontrei lá nessa viagem, posso dizer que um café expresso no shopping me custava mais que R$ 15,00. Daí você já consegue ter uma base de comparação.
Os pratos
Foram inúmeros pratos que provei. Deles vou destacar a Empanada Chilena, Curanto, Chupe de Jaiba, Pastél de Choclo, Mote com Huesillos e Centolla Gigante.
Empanada Chilena
Parecida com a empanada Argentina, a Chilena pode ser encontrada em todos os lugares no Chile. Ela é amplamente consumida e tem variações assadas ou fritas e com massa tradicional (similar a argentina) ou com massa folhada. Uma ótima pedida para matar aquela fome intermediária do meio da tarde. É a versão chilena da nossa esfiha fechada.
Curanto
Comi esse prato em Valparaiso. Nele, frutos do mar, peixe, frango, linguiça e porco são cozidos junto com batatas e servidos em uma panela de barro. A tradição desse prato é fazê-lo em grande quantidade, em uma vala aberta no chão, aquecida por brasa e protegido por folhas de nalca. Os ingredientes ficam enterrados para serem cozidos. Quando estão prontos ocorre o “destape” do Curanto, assistido pelas pessoas que irão compartilhar essa refeição.
Infelizmente o meu não seguiu exatamente essa tradição. Eu provei a versão “restaurante” dele, mas que preservava os ingredientes e um pouco do preparo.Esse prato é servido com um caldo que ajuda a dar sabor às carnes. É uma mistura interessante e inusitada do sabor do peixe, com mexilhões e a linguiça principalmente.
Chupe de Jaiba
O chupe de jaiba poderia ser “traduzido” como um “escondidinho de siri”, e é uma delícia.
Ele tem pouca extravagância de sabor para nosso paladar. É uma espécie de porto seguro para nossa referência gustativa. O Chile, muito rico em frutos do mar, tem uma grande variedade de pratos usando esses ingredientes. Foi um prato de raspar a travessa.
Pastel de Choclo
Se o escondidinho de siri foi um porto seguro, agora vamos navegar por mares mais turbulentos. Pastel de Choclo é o prato “queridinho” dos chilenos, mas que é fonte de polêmica entre quem o prova pela primeira vez. Deixe me tentar descrevê-lo. Imagine uma polenta mole e sem molho. Primeiro ponto a destacar, o milho usado no Chile é naturalmente mais adocicado que o nosso. Agora pense nessa polenta mole feita com esse milho mais doce. Acrescente açúcar, isso mesmo, uma boa dose de açúcar. Então coloque frango cozido em uma tigela de barro, cubra com essa polenta mole e doce, coloque um pouco mais de açúcar por cima e deixe no forno até caramelizar a casquinha superior. Pronto, você tem um pastel de Choclo. Eu, particularmente gostei, mas sei que não é unanimidade entre os brasileiros.
Mote com Huesillos
O alimento “dois em um” dos chilenos. Uma bebida não alcoólica, gelada, feita a base de pêssego e servida com pedaços de pêssego seco e trigo cozido. O trigo fica no fundo do copo e ocupa um terço de seu volume.
O chileno consome bastante essa bebida. Segundo alguns colegas chilenos, serve para aquele momento que você está com um pouco de sede, um pouco de fome e não quer gastar muito. A bebida gelada refresca e mata sua sede enquanto o trigo mata sua fome, pois essa bebida é servida com uma colher para poder comer tanto o trigo como o pêssego.
Centolla Gigante
Um dos pratos mais famosos. No quesito preço, tenho quase certeza que esse é o prato campeão. Uma refeição para 3 pessoas, acompanhada apenas de refrigerante, custou cerca de R$ 700,00. E olha que eu não estava em nenhum restaurante luxuoso não, era um restaurante dentro do mercado central de Santiago. O caranguejo é cozido e trazido inteiro por um funcionário que terá a responsabilidade de desmembrá-lo e retirar as cascas. Ele é acompanhado por um molho de alho e óleo. Sua carne desfia fácil e ao pegar com os talheres é difícil ter uma lasca grande no garfo. Ele acaba se desfiando naturalmente quando vamos desprende-lo da casca. Possui carne branca, bem delicada e suave, não tem um sabor muito forte nem marcante, mas todo ritual envolvido nele é o que conta. Começando com a exposição dele nas vitrines do restaurante, passando pela chegada à mesa, o garçom organizando para que o cliente tire uma bela foto segurando a Centolla, até o corte das peças e retirada da casca, tudo faz parte de um ritual que obviamente tem seu preço. Foi uma experiência diferente. Até a próxima visita Chile. Hasta luego!
Chile Capital : Santiago
População : ~ 17 milhões
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