Salve a quem chega!
Para aqueles que não sabem, “Saravá” é uma interjeição que tem o mesmo significado que uma saudação, normalmente utilizadas entre os participantes de cultos afro-brasileiros, como umbanda e candomblé. Saravá, assim como ciao italiano, pode ser usado como saudação de chegada ou de saída.
Queria me despedir
Aberto em 1976, são inúmeras as vezes que já almocei neste restaurante. Na virada deste mês ele vai mudar de endereço, passando a atender na Av. Conego Valadão. Não podia deixar de visitá-lo no antigo endereço. Foram vários almoços em família, com amigos e mesmo a trabalho. Precisava dar adeus a este imóvel que por tanto tempo foi o lar do Saravá. A despedida do prédio tinha que ser em grande estilo. Escolhi uma quarta-feira para esse almoço. No meio dos compromissos, reuniões, planejamento de férias (abençoadas férias), eu estrategicamente deixei o almoço da quarta-feira livre para esse meu velho amigo.
Hoje é dia de Feijoada!
Mas por quê? Você já parou para se perguntar por que as quartas-feiras são de feijoada? Quem escolheu isso para você, não é verdade? Eu li alguns estudos e pesquisas e trago aqui um resumão desse tema. Primeiro vamos falar do famoso PF, ou prato-feito para os não familiarizados. Ele surge no século XIX, no Rio de Janeiro, sede do Império (Darth Vader que me perdoe). Esse é um período muito movimentado no Rio de Janeiro, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil e a chegada aos baldes de imigrantes portugueses, italianos, franceses e ingleses. Também nessa época havia muita movimentação de gente daqui mesmo. Fazendeiros de cana-de-açúcar, do nordeste do país, agora falidos, para se refazer na capital. A necessidade fez com que estabelecimentos começassem a servir refeições individuais, diferentes da condição dos restaurantes que atendiam as famílias. Eram chamadas de “casas de pasto”. Agora vamos entender um pouco o menu fixo semanal. Como era de se esperar, não houve uma regra ou uma lei. Os menus fixos surgem por conta dos seguintes aspectos, primeiro uma ligação com nosso país colonizador, muito religioso e que tinha por tradição, por exemplo “guardar” as sextas-feiras sem carne vermelha. Daí temos o “peixe” no menu fixo das sextas. O outro fator é mais emocional que racional. Os homens estavam sendo expostos a uma nova realidade, diferente da que estavam acostumados. Ele, enquanto homem do interior, tinha por hábito almoçar em casa. Agora com a vida moderna, ele saia pela manhã e retornava apenas à noite para seu lar. O menu fixo, de certa forma, acaba sendo a comida de casa colocada na rua, em um restaurante. Isso cria meio que intuitivamente um vínculo de quem precisa comer fora, com a comida.
Há uma mínima constância na alimentação. Não importa o que aconteça naquele dia, que trabalho ele tenha que fazer ou onde tenha que ir, ele sabe que naquela quarta-feira ele almoçará feijoada. Isso de certa forma conforta esse novo “homem moderno” que sai cedinho e só retorna à noite para seu lar. Fora o peixe das sextas-feiras (por heranças dos nossos patrícios) não sei dizer como o cardápio foi se adaptando a cada dia. Ainda mais, esse cardápio fixo, muda de região para região. É realmente um fenômeno interessante pensar a quantidade de restaurantes no nosso estado que seguem o mesmo menu fixo todas as semanas.
Feijoada do Saravá
Antes de degustar minha tão planejada feijoada, eu comecei com um caldinho de feijão, temperado com pimentas, salsinha, cebolinha e cebola picada. Ele já teria valido minha ida até o Saravá. Após abrir meu apetite com o caldinho, parti sem demora para a Feijoada.
Ela é servida em panelas de ferro, identificando cada tipo de carne. Se gosta de costelas, estão ali. Se gosta de pés, estão logo ao lado. Dessa forma, podemos escolher e montar exatamente o prato que queremos comer.
Eu fui de paio e costelinhas. Estava do jeito que gosto, ou seja, não estava muito puxada no sal. Para acompanhar você pode se servir dos tradicionais complementos como couve, banana frita, bisteca, farofa dentre outros. Eu optei por bacon frito, couve, banana, farofa e claro, arroz branco.
Após liquidar meu prato, estava pleno, então a sequência lógica seria a sobremesa. Após uns instantes de reflexão, tomei uma decisão no mínimo curiosa. Troquei minha “cota” de sobremesa por mais um pouquinho de caldinho de feijão…
Afinal de contas ele estava irresistível. Para não dizer que ia fechar o almoço com o caldinho, peguei um pouco de laranja para refrescar meu paladar e minha consciência.Assim me despedi deste imóvel que me acolheu tantos anos.
Creio que minha próxima aventura no Saravá será no novo prédio. Saravá, meu querido imóvel da Av. Castelo Branco! Saravá, meu velho!
Saravá
Endereço : Av. Pres. Humberto de Alencar Castelo Branco, 1298 – Vl. Augusta
Telefone : (11) 3437-1151
Site : http://restaurantesarava.com.br/
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