Vó Amélia
Normalmente ocorre comigo. Depois de datas especiais comemorativas, onde a comida é um ponto alto, como Natal, Sexta-feira Santa (bacalhau) eu tenho uma necessidade de comer o tradicional. Já tem mais de 20 anos que meus amigos e parentes sabem da minha tradição de comer pizza de muçarela na noite do dia 25 de dezembro.
É bem verdade que já passei alguns apuros rodando pela cidade na noite do dia 25, procurando uma pizzaria aberta, mas sempre com êxito. Mesmo efeito ocorreu no domingo de Páscoa. Eu queria comer algo “amigável”, ou em outras palavras, um “confort food”. Relembrando esse conceito: confort food é algo muito particular de cada um. É a comida afetiva. Aquele prato que te faz voltar no passado, mas de uma forma agradável, ou seja, tomar Emulsão Scott definitivamente não é um confort food para ninguém. Se você não sabe o que é Emulsão Scott (óleo de fígado de bacalhau + associação) se considere uma pessoa de sorte. Ok, vamos deixar os traumas de lado e seguir com nosso tema. Apesar do “Ribeiro” (português) de meu sobrenome, que veio de meu avô paterno, grande parte da família é de origem italiana. Avós materno e minha avó paterna eram todos de descendência italiana. Minha infância foi parecida com a história de muitas outras pessoas. Domingo tinha macarrão na casa da minha avó Amélia. Tios e primos todos reunidos, a gente brincado e inventando novas brincadeiras o tempo todo, o carrinho de fricção enrolando no cabelo da minha prima, se escondendo nos mesmos esconderijos no apartamento da Vovó brincando de esconde-esconde, a bagunça na hora do almoço. Depois do jogo de futebol que os tios assistiam na TV, todo mundo se reunia para ver Os Trapalhões, que na época ainda eram 4. Não havia celulares, computadores nem vídeo games. Eram outros tempos, mas o sabor da macarronada da Vó Amélia continua na memória. Isso é confort food.
Casa Cheia
Matar minha vontade de confort food no Domingo de Páscoa foi uma tarefa relativamente fácil. Tanto pelo tipo de comida como pela localização. Fui visitar o La Pergoletta Espressa, com a vantagem de poder chegar lá caminhando (é pertinho de casa). La Pergoletta Espressa é a franquia do restaurante La Pergoletta. A produção de massas e molhos é em sua maioria (se não for na totalidade) feita pela matriz. Além de comer lá, os clientes têm a opção de comprar as massas, molhos e pães para preparar em casa. A casa é aconchegante e tem poucas mesas, mas fiquei muito feliz ao chegar no restaurante e vê-los quase com ocupação máxima. Uma casa cheia me deixa feliz, acreditem. Dói no coração quando recebo a notícia que algum restaurante fechou as portas. É sempre uma notícia ruim. Ruim para o dono do restaurante, para o público e para a cidade. Apesar de ter um espaço relativamente pequeno, eles têm preocupação com as crianças e oferecem um espaço kids para entreter a criançada enquanto a comida não é servida. Casa cheia, atenção redobrada. Nada passa desapercebido pelo olhar sempre vigilante de Tom, gerente da casa. Era notório que estava ali atento a tudo, olhando cada detalhe das mesas para atender a clientela da melhor maneira possível.
Pane
Não abusei da entrada e pedi apenas uma cesta de pães e um pouco de muçarela de búfala e rúcula fresca. A muçarela e rúcula eram porções bem pequenas mesmo, só para acompanhar os pães. Junto com a cesta serviram manteiga. Pão macio, rúcula fresca, muçarela de búfala, manteiga, azeite e sal: uma combinação de alimentos que facilmente faz a gente esquecer que era para ser apenas uma entrada. Mesmo assim, me contive para aguardar o prato principal.
Sal temos
Então vamos ao que interessa: o prato principal! Berinjela Grega (Berinjela à milanesa gratinada com molho bolonhesa, muçarela e bechamel. Acompanha arroz e fritas), Milanesa de Medici (filé mignon à milanesa coberto com molho de cogumelos tipo funghi e muçarela. Acompanha fetucine ao molho ao sugo) e Ravióli verde recheado com muçarela de búfala com molho ao sugo. Essa foi a seleção que fiz para esse almoço. Em geral todos os molhos e massas são servidos com pouquíssimo sal. Já não é a primeira vez que sinto isso. Pelo que me lembro, a explicação da casa é que para os clientes que desejam um pouco mais de sal, podem adicionar quando o prato chega à mesa. Creio que essa característica é orientação da rede de restaurantes e franquias La Pergoletta. Eles têm uma preocupação com a alimentação saudável. Isso fica evidente quando se visita o site: “Todos os itens são produzidos artesanalmente com baixo teor de gordura. As massas são elaboradas com ovos orgânicos, sêmola de grano duro e farinha especial. A ausência de frituras e o acompanhamento de nutricionistas garantem sabor, qualidade e segurança de todos os produtos da loja e do restaurante.” Mesmo não estando explicito, imagino que a pouca quantidade de sal nos alimentos segue essa mesma linha “saudável”. Isso me incomoda um pouco, porque adicionar sal após o prato pronto nunca é a mesma coisa que colocar sal durante o preparo. Você não terá o tempero homogeneizado nos alimentos.
Os pratos
Berinjela à milanesa é um clássico. Para quem gosta desse vegetal é difícil escapar dele quando encontramos no cardápio. Mesmo estando suave no sal, pelos ingredientes que compõem o prato, foi agradável comê-lo sem acrescentar mais sal. No cardápio é informado que o prato vem com batatas palhas, porém foi servido com batatas palito fritas (eu prefiro). A combinação estava ótima. Apenas achei estranho que no site do La Pergoletta (matriz) eles mencionam “ausência de frituras” e servem batatas fritas. Mas apoio e abraço a causa da busca por uma alimentação saudável. Outra curiosidade: berinjela à milanesa gratinada com molho bolonhesa e muçarela é uma berinjela à parmegiana, ou como os puristas preferem, é uma parmegiana.
Milanesa de Medici foi para mim, o melhor prato. Harmonia excelente entre molho de funghi, filé mignon à milanesa e fetucine. Esse prato não escapou da necessidade de colocar sal. Principalmente no molho que estava sobre o fetucine. O funghi trás naturalmente o sabor umami ao prato. Umami é um dos cinco gostos básicos do paladar humano, como o ácido, doce, amargo e salgado. A tradução do termo “umami” do japonês para português é “sabor gostoso”, e eu concordo.
O ravióli verde recheado com muçarela e servido com molho ao sugo não precisou de sal porque foi salpicado com queijo ralado, que fez o papel de complemento do sal. O molho estava um pouco ácido, assim como no fetucine do prato de Medici. No Medici essa leve acidez ficou mais escondida pela atuação dos outros ingredientes. Já no ravióli, ela acabou ficando mais aparente.
Panna i Cioccolato
Para finalizar pedi duas sobremesas. Panna Cotta (pudim de natas com frutas vermelhas) e mousse de chocolate. A panna cotta estava divina, com a quantidade adequada de dulçor e fazia ótima composição com as frutas vermelhas em calda. O mousse de chocolate tinha um sabor adulto, ou seja, tinha o sabor marcante do chocolate amargo. Por isso classifico ele como sendo uma sobremesa com sabor adulto, porque creio que agradará muito mais adultos do que crianças. E como sempre, sobremesas acompanhadas de um bom café expresso. Combinação perfeita.
La Pergoletta Espressa
Endereço : Rua Nossa Senhora Mãe dos Homens, 523
Telefone : 2229-8402 / 2229-0568
Site : http://lpespressaguarulhos.com.br/
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3 Comentários
Gostei da explicação e ilustrações do termo Umami!!!
Robson, Gostei da explicação e ilustrações do termo Umami!!!
Sou apaixonada por esse restaurante, estou pesquisando para abrir uma franquia! Moro em itaquera quero fazer uma pesquisa pra ver onde seria o melhor bairro!
Sua explicação e apresentação foram perfeitas !
Um abraço