Berço da Civilização
Normalmente começaria mencionando a data de fundação ou descoberta do país. Mas isso não se aplica aqui na Índia, pois é uma das regiões considerada como o berço da civilização. Um país grande em todos os aspectos. Geograficamente: é o sétimo maior país em extensão territorial, com 3,3 milhões de quilómetros quadrados. População: com seus mais de 1.3 bilhões de habitantes, é o segundo na lista dos mais populosos e estudos apontam que nos próximos anos será o primeiro, ocupando o lugar da China. Um país que em alguns aspectos me faz lembrar o Brasil, só que de uma forma mais extremada. Aqui as diferenças econômicas e sociais são mais acentuadas.
Um país que por muitos anos era dividido em castas. Não sou especialista nesse tema, mas tentando resumir de uma forma fácil, as castas são classificações que as pessoas têm, por exemplo, se você nasceu em uma família de casta nobre, você terá a casta nobre. Normalmente as castas não se misturavam. Elas também classificavam os ofícios das pessoas. Se sua casta é de ourives, seu avô foi um ourives, seu pai é um ourives e você será um ourives no futuro, e se casará com alguém de uma família de casta de ourives. Desde 1950, é proibido qualquer discriminação por cor, religião ou casta. Mesmo assim, ainda há pouca mistura de castas.
Nova Delhi
Nessa viagem ficarei na mesma cidade, Nova Delhi, capital do país. Uma região muito rica para o turismo e oferece inúmeras opções para visitação. Eu não perdi a oportunidade de conhecer algum dos mais famosos pontos turísticos. É incrível que mesmo estando na capital do país, cravados no centro da cidade, esses pontos turísticos trazem uma paz interior enorme. Digo isso porque o trânsito aqui é uma verdadeira loucura.
Confesso que quase enfartei mais de uma dezena de vezes. Tinha certeza que me envolveria em algum acidente de carro e já ficava imaginando toda burocracia ligada a isso, etc. Mas os indianos se entendem no trânsito. É uma característica deles. As faixas das ruas e avenidas não passam de meras sugestões por onde andar. Dentro de uma mesma faixa de rolagem, convivem lado a lado carros, motos, ônibus, bicicletas e tuqui-tuquis. Porém o buzinaço é inevitável. Todos os veículos parecem estar buzinando sem parar ao mesmo tempo. É ensurdecedor e angustiante. Apesar dessa loucura toda, ao entrar em um ponto turístico, o barulho irritante da loucura urbana fica de fora.
A Comida
A comida é um capítulo à parte. Aqui a grande maioria dos pratos é muito apimentada. Do café da manhã ao jantar, você estará em contato com pimenta. Na realidade não é apenas a pimenta em si. A comida aqui é muito condimentada. Lembre-se dos seus estudos no colégio: os europeus fazias as viagens para o oriente em busca das especiarias. A quantidade de pimenta nos pratos varia de região para região da Índia. No geral, o pessoal mais próximo da região sul prefere as comidas mais apimentadas do que a turma da região norte. Para entender o “nível” de picância, um colega local me explicou que classifica o prato como picante, muito picante e extremamente picante. Perguntei para ele sobre um prato que estávamos comendo (claro, eu já estava suando de tão picante que estava e achei que ele fosse classificar como muito picante). Ele olhou para a comida com uma cara de interrogação e me disse: Esse prato nem é picante. Ok, entendi qual era o nível então.
Dejejum
O café da manhã aqui é muito divertido (para quem gosta de comida) e tenho aproveitado bastante. No primeiro dia que fui tomar o café da manhã, me deparei com um grande caldeirão. Nele havia uma sopa de cor alaranjada. Era o Sambha (comida da região sul), uma sopa com batatas, legumes diversos e várias especiarias. Essa sopa é acompanhada com um creme de coco (servido em um pote separado) e com dois tipos de “pães”. Um pãozinho de farinha de arroz, bem leve e que fica em uma panela de vapor. O outro é uma rosquinha temperada e frita. Ao lado da sopa, revezam uma panela de arroz temperado em um dia e um cuscuz marroquino no outro. Na sequência é oferecido uma outra sopa. Essa, da região Norte, é um pouco mais densa que o Sambha e é feita com grãos (grão de bico por exemplo). Apesar de terem o sabor muito próximo, essa segunda é menos picante. Eles comem esse caldo com uma espécie de panqueca. Ainda servem linguiça de frango, ovos e batatas chips. Saindo dessa bancada quente, a próxima estação é uma bancada com gelo. Nela você pode pegar frutas, sucos industrializados, manteiga, iogurtes. Seguindo temos máquinas que preparam bebidas quentes e por fim, a última estação oferece mais lanches, cereais, croissant, folhado com gotas de chocolate, bolo com frutas cristalizadas e pães de forma (ao lado de uma torradeira).
Eu provei tudo, como era de se esperar. Comi as duas variações de sopa quase todos os dias. Posso dizer que para o paladar médio do brasileiro, elas são bem apimentadas, principalmente a do sul. O acompanhamento de coco ajuda a quebrar um pouco essa picância. Quanto aos pães: o que é feito com farinha de arroz é leve e está sempre úmido (por ficar em uma panela de vapor). Já a rosquinha frita é condimentada (não apimentada) e fofinha. As panquecas são um pouco oleosas. Os caldos combinam com o arroz e com o cuscuz. Finalizada a parte dos caldos, segui para o próximo posto: Iogurte ou Furtas? Aprendi, há um tempo atrás, com um amigo mais velho que também era viajante frequente uns macetes que sigo até hoje. Isso tem me livrado de algumas enrascadas. Vou dividir aqui com vocês. Muitas pessoas têm medo de pegar uma infecção alimentar quando viajam para destinos menos tradicionais. Esse medo é legítimo e você pode tentar reduzir as chances de que isso aconteça. Você precisa “ajudar” sua flora a se adaptar o mais rápido possível a região que você está. A primeira dica então sobre iogurtes. Eles são seus amigos. Recomendo que logo no início da viagem você tome iogurtes. Frutas frescas. Elas normalmente chamam a atenção e despertam a curiosidade, mas são alimentos frescos que não passam por nenhum processo de cocção. Risco eminente. Se possível, se afaste delas, principalmente no início de sua viagem. Sucos: prefira os sucos industrializados. Ou seja, em linhas gerais, evite o cru e natural. Prefira o cozido e industrializado. Descobri que os iogurtes oferecidos aqui são deliciosos. Além do iogurte, tomo chá com leite. Boa parte do que aprendo em minhas viagens é observando como os locais se comportam. Foi assim que aprendi a colocar cardamomo em pó e gengibre em pó na minha bebida, que ficou simplesmente deliciosa.
Pratos
Vou falar basicamente de dois tipos de comida. Não vou focar muito nos nomes porque acho que será mais interessante tentar expressar para vocês o sentimento geral que tenho dos pratos. Um dos tipos de comida que vou apresentar é o picadinho apimentado com arroz fininho (Basmati). É isso mesmo. São vários pratos diferentes, feitos com frango, cordeiro, e outras carnes. Essas carnes são cozidas e ficam realmente macias, desmanchando. Elas ficam dentro de um molho alaranjado bem denso que algumas vezes aparenta estar talhado. Esse molho é muito gordo e é fácil ver uma camada de gordura (similar a um óleo de dendê) na parte de cima do prato. Sempre apimentado, esse molho com carne vem com alguns legumes dentro, variando entre batatas, vagens, ervilhas, cebolas. Esse “picadão” é acompanhado por um arroz bem fininho e aromatizado (arroz Basmati). O jogo segue assim então: molho bem oleoso, picante com a carne desmanchando, servido junto com o arroz basmati muito suave e com aromas diversos. O resultado é gostoso no final. Na grande maioria das vezes terminava a refeição com os lábios amortecidos.
O outro tipo de prato que vou apresentar é a panqueca mil molhos. Funciona assim: você recebe umas duas ou três panquecas recheadas a gosto (frango, legumes, etc). Elas não são cilíndricas como as panquecas de carne que a vovó fazia. Elas são achatadas. Junto com as panquecas você receberá vários molhos, com cores, sabores e texturas diferentes. Mas você não receberá talheres e deve comer com as mãos. Se come assim: Parta um pedaço da panqueca e vai testando os molhos. Por isso que elas não são cilíndricas e sim achatadas, para servirem de base para você ir colocando o molho.
Dos molhos, o que mais gostei foi um molho vermelho escuro, puxando para cor telha que tinha uma pasta dentro que parecia grãos muito finos de amendoim, uma areia de amendoins. Os molhos brancos são, na grande maioria da vezes, os bombeiros da noite. Eles normalmente não são picantes (em alguns casos são até um pouco doces) e são feitos com algum leite (de coco, de soja, de vaca mesmo). Ajudam a diminuir a picância da comida e voltar a sentir os lábios.
Charuto
Parei em frente a um quiosque que vendia cigarros, charutos, fumo, isqueiros, etc. Nele estava um jovem fazendo uma preparação que me chamou a atenção. Eram folhar (parecida com folhas de parreira, usadas na preparação dos charutos de folhas de uva) com um líquido marrom por cima. Então o rapaz colocava alguns ingredientes por cima das folhas abertas (coco, chocolate, especiarias, etc), enrolava a folha e montava um cone com elas. Nesse momento eu estava muitíssimo intrigado, esperando o final da história, para ver o que os clientes fariam. Porém infelizmente, ele colocou os cones em uma caixinha para viagem e os clientes seguiram seu destino. Minha técnica de observação tinha falhado. Ainda estava em dúvida de como aquele cone era utilizado e/ou consumido. Era para colocar em alguma panela, era para comer apenas o que tinha dentro? Era para jogar na banheira e tomar um banho aromatizado? Sorte minha foi que em um dos restaurantes que comi, após a refeição recebi um charutinho (muito parecido com o charuto de folha de uva, como mencionei). Era o Paan Leaf. Uma folha de pimenteira que é recheada e servida após as refeições ou em comemorações.
A folha não é macia, trazendo uma textura crocante. Elas dão um gosto amargo e dentro, o recheio doce completa o sabor desse quitute. Claro que voltei posteriormente ao quiosque para pegar um Paan Leaf mais elaborado…
Namastê
Se você tem a mente aberta e gosta do exótico, a Índia é um lugar interessante para conhecer. Pena ser tão distante, mas se tiver oportunidade não deixe de visitar. Para mim pelo menos, tem sido uma experiência maravilhosa. Namastê.
Especial Índia
Capital : Nova Delhi
Área : 1.269.000 m²
População : 1,339 bilhão (2017)
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1 Comentário
Sensacional Robson!
Em janeiro irei pra India também, espero ter á mesma experiência positiva que você teve!