Bodas de Papel
Enfim completamos um ano de nossa coluna de gastronomia. Passou voando. Espero ter contribuído com os leitores, apresentando um pouco dos restaurantes que temos em Guarulhos além de contar algumas curiosidades sobre os pratos, suas origens e ligações com a história. É um tema que adoro e tem sido um prazer explorar esse lado da gastronomia. Como toda boa festa de aniversário, nada melhor do que chamar os amigos para comemorar. Uma data tão especial para nossa coluna precisava de um convidado de honra. Uma pessoa simples que acolhe a todos em seu restaurante e faz você se sentir a vontade mesmo que seja a primeira vez na casa. Sua paixão pela cozinha é tão grande quanto a paixão pela família, que o acompanha no restaurante. Conheci essa pessoa há quase 10 anos. Por incrível que pareça, não foi a afinidade pela gastronomia o primeiro ponto em comum da nossa amizade. Foi a paixão por carros clássicos. Fuscas, Mavericks, Santa Matilde, Gurgel, e toda infinidade de clássicos (ou “ratoeiras”, como ele as chama) eram temas constantes de nossas conversas. Aos poucos, outros pontos em comum foram surgindo e estreitando nossa amizade.
Fariseu
Mas afinal, sobre quem estamos falando? Quem seria esse “fariseu”? Estou me referindo ao Fred, dono do Restaurante Fredão. Ele já está no ramo de bar e restaurantes em Guarulhos há mais de 35 anos. Foi o proprietário de casas como o Papo-e-Repapo, Sargento e outras. Hoje ele atende no restaurante chamado Fredão. É o espaço mais underground da cidade. Underground não apenas no estilo, o restaurante fica abaixo do nível da avenida. Com estacionamento próprio, você chega com seu carro e desce para o subterrâneo. Lá, pode deixar o carro sossegado e sentar para almoçar, apreciando uma boa música que sempre está tocando ao fundo. MPB, Rock clássico, sambas tradicionais, a música é uma companheira do restaurante e é tocada em uma altura agradável, sem ser inconveniente. Fred faz questão de recepcionar os clientes com bom humor e sempre tem um assunto para uma boa proza. O cardápio oferece pratos comerciais ou pratos à lá carte. Fico muito tranquilo em avaliar os pratos da casa, porque tenho a impressão que já comi todas as opções que o restaurante oferece.
Segredinho
A entrada que mais gosto de pedir no Fredão é a porção de bolinho de arroz. Um prato relativamente simples, mas que tem alguns segredinhos. O servido no restaurante é impressionantemente leve. Não sei se posso dizer que é um segredinho, porque Fred não esconde de ninguém a mágica. “A diferença é que colocamos fermento no bolinho”, comenta Fred. Eu já fiz bolinhos de arroz em casa, porque é a comida que meu filho mais gosta nos últimos tempos. Mesmo seguindo a dica do Fred, a conclusão que chego é que a prática leva a perfeição, ou seja, nós que fazemos esporadicamente esse tipo de comida, podemos até chegar perto do bolinho servido no Fredão, mas só quem faz essa porção varias vezes no dia, todos os dias, é que tem a mão certa nas medidas. As outras entradas não ficam para trás. Bolinho de bacalhau, por exemplo é outra iguaria que você não pode deixar de provar.
Parmegiana
Dentre os pratos servidos no Fredão eu não saberia dizer qual mais gosto. As feijoadas servidas às quartas-feiras e sábados fazem parte de meu hábito alimentar. Assim como o bacalhau servido às sextas-feiras. Em dias que estou com a consciência pesada (não apenas a consciência), o peixe com legumes é uma boa opção. Hoje vou escrever do prato que é o preferido da minha filha e que é muito bem preparado no Fredão. O filé mignon à parmegiana. Nesse dia pedi o filé à parmegiana grande. Sem medo de errar digo que esse prato serve bem de 3 a 4 pessoas, dependendo da fome.
Ele é acompanhado de arroz e de batatas fritas. Um detalhe que adoro no Fredão é a batata frita. Explico o porquê. Ela me transporta à infância, porque fugindo do tradicional (graças a Deus) eles fazem a batata frita estilo “canoa”. Nada de batatas palito. Falando do filé: se você esqueceu a faca, não tem problema. Pode comer seu filé à parmegiana de colher. A carne utilizada é selecionada e o filé é fartamente regado com o molho de tomate caseiro. Não é só minha filha que é fã de carteirinha desse prato. Já fui no restaurante com vários amigos e comemos diversos pratos. Posso dizer que, em uma simulação mental da eleição do prato que mais gostam e elogiam, o filé a parmegiana é o grande vencedor.
Gianna
Mas qual a origem desse prato tão idolatrado entre os brasileiros? Não consigo lembrar o número de pessoas que me pedem indicação específica de filé à parmegiana. Já vi gente que tem um ranking dos melhores filés que já comeu. É um prato que impressionantemente agrada uma imensa maioria de pessoas, praticamente uma unanimidade. Então vamos a sua origem. Já começando quebrando tudo. Filé à parmegiana não é italiano! É isso mesmo que você leu. Acredite: o filé à parmegiana é um prato brasileiro. Quando visitei a região de Parma, em Reggio Emilia, comi os mais deliciosos queijos Parmigiano Reggiano que me lembro. Ficam ainda mais maravilhosos com creme balsâmico di Modena (vendido quase a preço de ouro). Na região de Parma e no resto da Itália, se você pedir a opção chamada “Parmigiana” do cardápio, receberá uma berinjela à parmegiana. Nunca um filé. Em adição, a berinjela será servida com molho de tomate (sempre excelente) e com queijo parmesão. A história do nosso filé à parmegiana não é clara, mas a versão mais aceita é que foi uma adaptação dos imigrantes italianos que chegaram no Brasil. Me parece uma versão bem verossímil, pois o custo da carne no país é mais acessível que o custo dela na Europa. Com o passar do tempo, o queijo migrou de parmesão para muçarela. A versão mais engraçada das que pesquisei conta que um rapaz italiano, jovem e pobre, para tentar conquistar uma donzela chamada Gianna, a convidou para jantar. Pobre que era, decidiu ele mesmo cozinhar e improvisou o prato, batizando de Filé per mia Gianna. Filé per-mia-gianna e assim o prato ficou famoso. Acho que é unanime que esta é a versão mais engraçada da origem do prato.
Bananas e Laranjas
Para fechar o almoço nada melhor que uma sobremesa feita na casa, não é? Nesse dia, Fred nos ofereceu bananas flambadas, com molho de laranja, servidas com sorvete de creme. O molho de laranja deu um toque especial no prato, uma vez que o cítrico fez o contraponto do dulçor da banana com açúcar. Recomendo!
Fredão
Endereço : Av. Dr. Timóteo Penteado, 1031
Telefone : 4574-0045
Site : https://www.facebook.com/RestauranteDoFredao/
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1 Comentário
Parabéns pelo 1 ano de coluna! Continuando gostando mais e mais dos textos escritos, e sempre acabo com água na boca!