Saka = Saquê
Participei de um evento de degustação de whisky nessa semana e ouvi da palestrante uma frase que me marcou: “depois de certo tempo nessa área, não busco apenas o bom, me interessa o novo, o inusitado, o surpreendente”. Estava nessa degustação pois tenho um envolvimento profissional com essa bebida. Não sei se vocês sabem, mas minha relação com a Gastronomia começou pelo whisky. Frequentemente, promovo workshops de degustação de whisky e meu foco é a harmonização da bebida com os pratos e por isso fui me especializar em gastronomia, fazendo o curso técnico em cozinha pela Etec Santa Ifigênia. Mas voltando a frase da colega. Ela me impactou bastante e me fez refletir. Principalmente quando falamos de restaurantes de comida japonesa. Eu frequento restaurantes japoneses há mais de 40 anos e eles eram completamente diferentes dos que vemos hoje. Não existiam os famosos “rodízios”, apenas restaurantes à la carte. Mas o público se identificou com esse sistema e a consequência foi um tsunami de rodízios japoneses espalhados pela cidade. Nesse cenário que aparece o novo, o diferente. A primeira casa Izakaya da cidade. Izakaya é um tipo de bar japonês que serve comida para acompanhar a bebida. A origem da palavra vem da junção de “i” (sentar) e “sakaia” (loja de saquê). Ou seja, em sua origem, Izakayas eram lojas que vendiam saquê, mas que permitiam que seus clientes se sentassem para tomar a bebida. Daí uma coisa leva a outra e em pouco tempo estavam servindo acompanhamentos para o saquê. Tradicionalmente os Izakayas servem pequenas porções de alimentos para acompanhar as bebidas, ao bom e velho estilo tira-gosto. São identificadas por lanternas vermelhas de papel que ficam na entrada do estabelecimento. Outro ponto a destacar é que os Izakayas tradicionais, apesar de terem cardápios únicos e diferenciados, em sua grande maioria servem espetos como aperitivos. Seria a versão japonesa do espetinho com uma gelada?
Charme
Visitar o Hirô Izakaya foi sugestão do querido leitor Emerson. Chegando lá você já se impressiona pela decoração que segue uma linha bem despojada e contemporânea. Sobre o balcão, uma fileira de lâmpadas de filamento de carbono ajuda a trazer o clima moderno. O espaço é relativamente pequeno trazendo a sensação de exclusividade, algo como, “conseguiu uma mesa, ótimo. Senão terá que esperar um pouco”. O cardápio varia todos os dias e é escrito à mão em uma folha de papel. Isso também é muito legal, porque traz uma incerteza do que você vai encontrar lá. Uma coisa que não gosto muito em espaços desse tipo é muita exposição do salão com a rua. O Hirô Izakaia é totalmente aberto para a rua. Se fosse apenas um barzinho ok, mas para um espaço que oferece refeições, eu particularmente não gosto muito. Ambientes um pouco mais fechados para refeições me dão a impressão de maior controle de temperatura, barulho e até mesmo poluição.
Robata
Apesar do cardápio simples e feito à mão, fiquei em dúvida sobre o que pedir. O prato do dia era Teppan de peixe ou carne. Teppan, ou teppanyaki significa comida grelhada em chapa de ferro. Teppan é “prato de ferro” e yaki significa “grelhado, cozido ou frito na panela”. Também oferecem Yakisoba, Bentô e Teishoku. Fora os pratos, eles servem as “Robatas”. É um método de cocção semelhante ao churrasco. Para compararmos seriam os primos orientais do nosso espetinho. Eu não passei vontade não. Pedi um Teishoku (que vinha com Teppan de peixe), um teppan de carne bovina, um yakisoba, uma robata de cupim (sugestão da casa) e o drink chamado de “drink da casa” que é feito com limão siciliano, saquê e tônica. Se é para conhecer a casa nova, quero ver todos os cômodos.
Escravos de Jó
Eu acho um barato esse tipo de refeição. Pequenas porções vão chegando à mesa e você vai passeando de uma para outra em uma ordem aleatória. De tantas porções que vieram, precisei chamar o garçom para ele me explicar cada uma. Vejam as porções que recebi para acompanhar o teppan e o teishoku: salada de couve (cortada fininha), conserva de abobrinha, catalônia, nirá com ovo, rabanete fatiado, conserva de jiló, cambuci, berinjela, sunomono, omelete, gohan, missoshiro e sashimi. Posso dizer que são tantas opções que é impossível que você não goste de nenhuma das 13 servidas, ou seja, agrada a todos. Aliás, é mais fácil gostar de todos os pratos.
Uma diversão à mesa. Destaque especial para o sashimi. As fatias de salmão vieram com raspinhas de limão siciliano e o peixe branco com raspinhas de siciliano, fatias de tomate cereja e cebolinha.
Nitidamente o foco é pela delicadeza e harmonia e não comer até se entupir de sashimi, mas aproveitar cada sabor de cada porção. Além da diversão de estar cercado pelos pratinhos de comida, não posso deixar de mencionar o yakisoba que estava suculento e com sabor de “quero mais”.
O peixe do teppan era empanado e servido com molho e cogumelo shimeji. Não gostei muito do contrafilé servido no teppan e ele acabou ficando meio de escanteio.
Para piorar a situação de rejeição dele, a concorrência era desleal com a robata de cupim, que ganhou de goleada. Não é a toa que a casa indicou essa robata. Era um início de tarde quente e o drink da casa veio bem a calhar, principalmente por ser um estilo seco, com pouco (acho que nenhum) açúcar, ou seja, ele era refrescante sem ser enjoativo.
Domo Arigatou Gozaimasu.
Como foi bom e prazeroso visitar uma casa com uma iniciativa diferente. Claro que os rodízios japoneses têm um lugar de honra no meu coração, mas tratando de diversidade de tipos de restaurante, quanto mais variedade, melhor. Com certeza voltarei nessa casa.
Hirô Izakaya
Endereço : R. Conselheiro Antônio Prado, 103
Horário : De terça-feira à sábado, das 11h30 às 22h e domingos, das 12h às 17h
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