1984
O ano é 1984. Eu não entendia direito tudo que estava acontecendo, mas analisando atualmente, é incontestável que foi um ano maravilhoso e excitante para os brasileiros. Um ano de grande mobilização popular na chamada “Diretas Já”. Quem viveu nesse período deve se lembrar das Olimpíadas de Los Angeles e do brilho dourado de Joaquim Cruz, medalha de ouro nos 800 metros rasos. Foi a melhor campanha olímpica do Brasil até então.
Nesse mesmo ano, o Pop Star Michael Jackson chegava a seu auge e a boyband de Porto Rico, “Os Menudos”, estouravam no país. Ainda recordo da alegria que era passear com meu irmão mais velho em seu carro zero, que tinha acabado de ganhar. Um carro revolucionário no mercado. Um Uno CS 1.3 Bege. Não era sempre que saíamos juntos, afinal eu ainda era um pirralho, mas não sei bem o porquê que uma das vezes ficou tão marcado para mim. Fomos só nós dois em seu Uno almoçar em uma nova cantina da Cidade: Cantina D’Elia. Lembro como se fosse ontem. Pedimos uma lasanha ao sugo. Gosto de saudades até hoje para mim.
34 anos
Fundada em 1º de maio de 1984, são mais de 34 anos servindo pratos da culinária italiana. Nesses 34 anos ela manteve sua cara, sua tradição, seu jeito acolhedor de receber a clientela. Resiliência (capacidade de voltar ao seu estado natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum) é a palavra que eu classifico como sendo a melhor para descrever o D’Elia.
Não é fácil se manter na ativa por tanto tempo. A casa comporta em torno de 60 clientes em suas acomodações espartanas (no sentido figurado, que denota simplicidade, sobriedade, sem excessos ou luxos). Mas não deixa dúvida que é uma cantina, seja pelos quadros com temas italianos, seja pelas cores das toalhas na mesa.
Antepasto
Pedi inicialmente o antepasto feito na própria casa. Sardela, berinjela e manteiga. A Sardela é originaria da Calábria, no extremo sul da Itália, uma das regiões mais pobres do país. Lá eles se orgulham desse antepasto e se autoproclamam: “a terra da Sardela”. Ela possui outros nomes como: caviar de Crucoli (Crucoli é uma comunidade na província de Crutone, berço da sardela), caviar do sul ou caviar dos pobres. Ela é um creme escarlate, apetitoso, à base de pimentões vermelhos, tomate, aliche e/ou sardinha, pimenta dedo-de-moça, louro, alho, erva-doce, azeite e sal. Difícil resistir e não comer algumas fatias de pão com antepasto tão marcante. Acabei comendo sardela até com batatinhas fritas que tinha pedido para atender à vontade das crianças.
Tradição é tradição
Para almoçar, dessa vez quis matar um pouco a saudade dos anos 80 e fui nos pratos mais tradicionais. Pedi uma lasanha ao sugo, um nhoque à bolonhesa e uma porção de carne assada, fatiada e servida com molho da própria preparação. Um almoço com gosto de nostalgia, mas com a certeza dos sabores que encontraria e me fariam voltar no tempo.
A lasanha
A lasanha chegou à mesa fumegando, como tem que ser. Servida com todo cuidado pelos tradicionais garçons da casa. Recebeu um banho de molho ao sugo quando já estava no prato. Acompanhei a lasanha com a carne assada. Cada garfada na lasanha deixava uma ponte de queijo derretido entre o garfo e a massa que ainda estava no prato. Foi a primeira massa que comi nesse almoço e me fez voltar a ser o pirralho que saia para almoçar com meu irmão. Na sequência, peguei um pouco do nhoque à bolonhesa, que estava leve como sempre (particularmente recomendo o nhoque de lá por essa leveza. Meus filhos são apaixonados por esse prato). Quando dei por mim, o prato já estava vazio novamente. Precisei repetir tanto a lasanha como o nhoque para então me sentir pleno.
O restaurante é conduzido pelos irmãos Ettore e Ariovaldo (os irmãos abraçados na imagem do começo do texto). Naquele dia, o restaurante estava sendo pilotado apenas pelo senhor Ettore. Mesmo estando de folga, o senhor Ariovaldo apareceu por lá, com sua inconfundível voz rouca. Uma ótima oportunidade para tirar uma foto com essas duas figuras tão importantes da culinária Guarulhense.
Sobremesa
A sobremesa foi o manjar pois queria fugir do pudim de doce de leite, que tem sido um dos doces que mais encontro nos restaurantes visitados. Passaria por uma sobremesa insossa caso não tivesse sido salvo pela calda de ameixas, que imprimiu o dulçor que ele precisava.
Cantina D’ELia
Endereço : Av. Guarulhos, 1803 – Vila Augusta
Telefone : (11) 2422-4366
Site : https://cantinadelia.webnode.com.br/
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2 Comentários
Parabéns! A matéria diz tudo. Lugar simples, uma comida majestosa, ambiente familiar e com jeito italiano nos detalhes. Atendimento nota mil.
Recomendo o Bife a Parmegiana dessa cantina! É sensacional!