Italianíssimo
A cultura italiana, sem sombra de dúvidas, é um expoente da influência estrangeira na formação cultural do Brasil, especialmente em São Paulo. Isso se aplica em vários setores, dentre eles a gastronomia. A embaixada italiana no Brasil, em 2013, divulgou o número de mais de 30 milhões de descendentes de imigrantes italianos morando no Brasil, o que equivale a cerca de 15% da população brasileira, sendo metade no estado de São Paulo.
A macarronada de domingo foi e é tradição em muitos lares. O sotaque “cantado” dos paulistas também é forte influência italiana. Com esse pano de fundo, confesso que fiquei perplexo ao perceber que ainda não tinha feito nenhum texto sobre um restaurante anunciadamente italiano e decidi resolver essa situação.
Tarantella? Só que não
Mas o que vem em nossa mente quando falamos de restaurantes italianos? Toalhas quadriculadas nas cores da bandeira da Itália, vermelha, branca e verde? Bandeirinhas penduradas no teto? Tarantella tocando no salão? Provavelmente essa será a primeira imagem que surgiu na sua mente, certo? Mas será que isso reflete a Itália? Nem sempre e nem em todas as regiões. Eu frequentei o norte da velha bota e posso dizer que, por mais que tivesse procurado, não encontrei restaurantes com esse formato.
Pelo contrário, dos pequenos aos grandes, na sua maioria, eles quase chegavam a ser muito formais. Toalhas impecavelmente brancas, taças para vinho, talheres alinhados. Esse mesmo ambiente que encontrei na Forneria Capannone. Um ambiente sofisticado e elegante, com uma decoração contemporânea compõe os espaços disponíveis no Restaurante. A casa possui além do salão principal, outras acomodações para seus clientes, como o bar na entrada, deck, mezanino, playground, espaço VIP, mesas no jardim dentre outros.
A Carta
Além da opção de pedir à la carte, o restaurante oferece um buffet à vontade e um menu executivo. À noite, a casa tem uma boa variedade de pizzas. Olhando o cardápio, vi uma extensa variedade de pratos. Se você não está familiarizado com a língua italiana, precisará ler as descrições dos pratos para entender seus ingredientes. O carro chefe do restaurante são as massas, segundo informação do colega que estava me atendendo. Mas queria pedir um prato que precisasse de mais elaboração. Decidi então selecionar dois pratos com carnes. Um deles foi “Ossobuco di Vitello con gremolata alla milanese” ou seja, ossobuco de vitela ao forno servido no próprio molho acompanhado de risoto de legítimo açafrão espanhol em estigmas. O outro foi “Carrè disossato di Agnello alle erbe”, carré de cordeiro desossado em crosta de ervas, grelhado e gratinado ao forno acompanhado de polenta fresca. Além dos pratos, pedi Arancini de entrada.
Arancini
São 10 bolinhos de risoto com legítimo açafrão espanhol em estigmas, recheado de mozarela de búfala e tomate seco. Não tinha como não pedir essa entrada. Ela me fez lembrar das minhas primeiras viagens para Turim, quando ainda no aeroporto a primeira coisa que comia era uma porção de arancini. Poderia classificá-lo como o primo italiano do nosso tradicional bolinho de arroz. As principais diferenças são: ele é feito com arroz de risoto, ou seja, carnaroli, arborio ou vialone nano. Normalmente são recheados, e seus recheios podem variar entre carnes, queijos, tomates ou legumes. Outro ponto que os diferencia do nosso é que eles são empanados em formato de bolinhas. É um ponto importante, pois isso explica a origem de seu nome: arancini é derivado direto de arancia, que significa laranja em italiano.
Quando estão prontos e empanados ficam, de fato, parecendo pequenas laranjas. Inúmeras receitas de arancini usam açafrão espanhol para intensificar a cor laranja nesse quitute. Eles têm sabor mais acentuado que o bolinho de arroz, tem mais “pegada”. São um pouco mais pesados também. Lembraram muito os arancinis que comia na Itália. Se você não conhece, vale a pena experimentar. A porção é grande e sugiro que atente aos demais pratos que vai pedir e ao número de pessoas que estão com você para não ficar exagerado. Com a composição total do meu pedido, poderia ter sido servido um pouco menos que já seria suficiente.
Ossobuco
Após matar a saudade dos arancinis, parti para o prato principal. Era o começo do horário de almoço de uma terça-feira e o restaurante não estava cheio ainda. O prato chegou à minha mesa surpreendentemente de forma rápida. A quantidade servida era adequada para uma pessoa, apesar de estar com uma sobredose de risoto milanês, pois ele também era à base do arancini, sua combinação do ossobuco de vitelo foi feliz. Falando da carne em si, ela estava extremamente macia. Soltava do osso quase que espontaneamente e se jogava no mar de risoto. O prato me deixou satisfeito com relação ao sabor, quantidade e qualidade. Entrou na lista de pratos marcantes, aquele que você tem na manga para indicar a um amigo se for consultado sobre uma pérola gastronômica. Vontade não faltou de ficar roendo o osso ao final do prato.
Carré
Achando que tinha acertado em cheio com o ossobuco, me aparece o Carré de Cordeiro desossado pela frente. Pronto! Agora estava em dúvida sobre o melhor prato da casa. Já não tinha plena convicção que o ossobuco era o campeão. O carré foi servido com uma crosta de ervas que imprimiam um tempero marcante à carne, que veio ao ponto para bem, ou seja, com aspecto rosa no centro. Eu, particularmente, acho que é o ponto correto para carré, pois apesar de ser uma carne delicada, o cordeiro tem um sabor mais forte que as carnes que normalmente estamos acostumados a comer. Sendo assim, quanto mais mal passada, mais acentuado fica esse sabor peculiar.
Ela, no ponto que foi servida, consegue agradar à maioria das pessoas, trazendo um equilíbrio no seu sabor. O carré foi acompanhado com polenta mole, que estava neutra, e acredito que o objetivo era que o molho do preparo da carne acabasse se misturando com a polenta para temperá-la. Se o objetivo era esse, ele foi atingido com êxito. Um prato servido com a quantidade adequada para atender uma pessoa. Eu apenas teria colocado um pouco mais da polenta para acompanhar a carne.
Levanta-me
Feliz ao saber que a casa produz várias das sobremesas oferecidas em seu cardápio. A escolhida para fechar esse almoço foi o Tiramisù. Quando eu era criança e ouvia o nome dessa sobremesa eu achava que era alguma coisa japonesa. Pesquisando, entendi a origem do nome e agora tudo faz sentido. Ele surge da junção das palavras: tira+mi+su, ou em uma tradução livre, “puxa-me para cima” ou “levanta-me”. É assim por ser uma sobremesa energética. Desde a apresentação, esse doce fez bonito. O dito popular: “você começa comendo com os olhos” pode ser aplicado em sua plenitude aqui. Gostei da sobremesa, mas senti falta do sabor do café, pois sempre fiz uma associação direta entre eles. Compensei pedindo um expresso para complementar.
Quanto vale o show?
Em relação ao preço: não, não é um restaurante barato. Se me perguntar se achei o preço justo, minha resposta será: sim, achei o preço justo pelo conjunto da obra. Começando pelo ambiente sofisticado, passando pelo atendimento, pela qualidade e quantidade dos alimentos o preço é justo. Esse almoço que descrevi acima, para duas pessoas ficou um pouco mais que 300 reais e mesmo assim sai de lá com a sensação de ter pago um preço justo pelo que foi servido.
Forneria Capannone
Endereço : R. Lázaro Bueno de Oliveira, 92
Telefone : (11) 2441-3231
Site : http://capannone.com.br/
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