O melhor do Brasil
O Brasil, com sua extensão territorial de magnitude continental, possui uma gama de pratos típicos vasta. A região de maior expressão na gastronomia é a região Nordeste. Faça o teste. Quando pensamos em pratos típicos brasileiros, a primeira lembrança é a feijoada. Qual outro prato veio na sua memória em segundo lugar? Grande chance de ter sido um prato nordestino. Moqueca, baião de dois, acarajé, bobó de camarão, vatapá, carne de sol, carne seca, tapioca dentre outros pratos, enriquecem nossa culinária local. A culinária nordestina é a mistura de três culturas: indígena, portuguesa e africana. Da cultura indígena vieram: mandioca e seus derivados, pimenta (que já era usada pelos nativos para temperar as refeições), além de amendoim, milho, frutas e o peixe. Os portugueses contribuíram enriquecendo a forma de preparo e a confecção de doces. Também trouxeram especiarias de suas aventuras pelos mares. Já da cultura africana as contribuições foram: cuscuz, feijão, arroz, óleo de dendê dentre outras. Deve ser por isso que somos tão apaixonados pela cozinha nordestina, e cada vez mais ela vem se multiplicando em todas as regiões do país.
Um pedacinho de lá aqui
O Bar e Restaurante Compadre já tem 30 anos de tradição servindo os mais diversos pratos do Nordeste do Brasil. O Bar e Restaurante Compadre deixa claro no seu nome que é um restaurante que segue uma linha mais descontraída, com uma “pegada” híbrida entre bar e restaurante. Mesmo sem o rigor dos restaurantes clássicos, ele apresenta uma decoração temática bastante simpática. Lustres feitos com chapeis de cangaceiro podem ser vistos sobre o balcão. Dessa forma ele consegue atender o público que deseja um bar para um divertido happy hour, assim como aqueles que procuram por um restaurante. Vale destacar que há um tempo, ele está despontando como a primeira opção no site “Tripadvisor”, de avaliação de restaurantes, um feito que Netto, proprietário do restaurante, destaca com orgulho.
Clássico
O restaurante apresenta várias opções de entrada. Das mais contemporâneas, como o dadinho de tapioca com geleia de pimenta e melado da casa, até as opções mais tradicionais, como torresmo, fritas, macaxeira e outros. Nessa visita ao Compadre eu escolhi o torresmo. Tenho uma certa bipolaridade e ora quero experimentar o novo, ora quero visitar o sabor tradicional. Nesse dia eu estava mais para o tradicional. O torresmo do Compadre é praticamente um acompanhamento, pois ele é na verdade a panceta (barriga do porco) frita junto com a pele. Por isso ele acaba sendo um torresmo bem “carnudo” e cai sempre muito bem com o limão e uma boa gelada. O tempo de espera é curto, e pouco tempo depois que pedi a porção ela já estava chegando à mesa. Não seria nenhum absurdo pedir uma porção dessa com um outro prato e considera-la como acompanhamento ao invés de ser uma entrada. Digo isso porque ela é bem servida e, por ser “carnuda” como disse, pode ser a porção de proteína para uma refeição. Me controlei para não saciar toda minha fome apenas com a entrada, o que seria muito fácil de acontecer.
O Luiz tinha razão
Os pratos principais escolhidos foram: o tradicional “baião de dois” e o “sol de rachar”. Minha filha não sabia a origem do nome do prato que pedimos – Baião de Dois. Acho relevante escrever um pouco sobre sua origem, já que ele é um verdadeiro embaixador da comida Nordestina. O nome dele pega emprestado o nome de um gênero de música e dança muito popular no Nordeste, o Baião. Baião é a corruptela, ou seja, uma “deformação”, da palavra baiano, que era um tipo de dança introduzida no Brasil por escravos de Angola. Esse prato nasceu da necessidade de aproveitamento que o povo tinha, já que muitas vezes, sofria com a escassez de comida causada pelo rigor do clima e do solo. Para não desperdiçar os alimentos o baião de dois surgiu, pois era feito com as sobras tanto do arroz como do feijão, preparados durante o dia. Em adição a esses dois elementos eram acrescidos: queijo de coalho, coentro, pimenta e carne seca. O prato também dá nome a uma famosa música do Rei do Baião, Luiz Gonzaga que em parceria com Humberto Teixeira compuseram: Baião de Dois
Trecho da letra da música Baião de Dois
Capitão que moda é essa? Deixe a trempe e a cuié
Homem não vai pra cozinha, que é lugar só de mulé.
Vou juntar feijão de corda numa panela de arroz
Capitão vá lá pra sala que hoje tem baião de dois
Ó baião que bom que sois
Se o baião é bom sozinho, que dirá baião de dois
Licença poética a Teixeira e Gonzaga, porque cada vez mais a cozinha tem sido um território comum de dois gêneros.
O Baião de Dois do Compadre é o carro chefe da casa. Ele estará praticamente em quase todas as mesas do restaurante. Não é por menos. O prato em si já é uma explosão de sabores, pela riqueza de elementos. A base do sabor é o carboidrato do arroz e do feijão de corda. A proteína vem por conta da carne seca desfiada, bacon, linguiça calabresa e queijo coalho em cubinhos. A pimenta biquinho traz o toque de acidez e ajuda a equilibrar a gordura das proteínas.
Tudo isso temperado com coentro na medida certa. Como se não bastasse, o prato é acompanhado com uma guarnição extra de carne seca. Com certeza se eu tivesse pedido apenas esse prato já estaria bem satisfeito, mas eu queria mais. Precisava experimentar um prato indicado no cardápio como “NOVIDADE DO COMPADRE!”. Então pedi o “SOL DE RACHAR”, que é carne de sol puxada na manteiga de garrafa com cebola roxa, macaxeira frita e alho assado. Gostei muito dessa novidade, mesmo sendo um exagero de comida. A cebola roxa deu um toque diferente nesse prato pelo seu dulçor. A macaxeira estava macia e se desfazia na boca e o alho assado finalizavam o prato, compondo o sabor final. Eita mundão de comida.
Chamem a polícia
A sobremesa que mais gosto lá é a Trouxinha do Compadre: doce de banana, enrolado dentro de uma folha de bananeira, com sorvete artesanal de tapioca, regado com licor de canela. Essa sobremesa deveria ser proibida pela polícia, porque chega a ser indecente de tão gostosa. Nem parecia que tinha comido um sertão inteiro de comida. Para terminar (fico até com vergonha de escrever isso, kkk) um café expresso com um pedacinho de rapadura. Nem preciso dizer que fiquei igual a um calango, estirado sem mover um músculo para conseguir fazer a digestão de todas as maravilhas que tinha comido.
Bar e Restaurante do Compadre
Endereço : Rua Silvânia, 86 – Gopoúva
Telefone / Site : (11) 2443-4533 /
https://www.facebook.com/Bar-e-Restaurante-do-Compadre-142951139202976/
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