Sandro Botticelli
Botticelli foi um dos mais famosos pintores da Itália do século XV. Natural de Florença, seus familiares trabalhavam em curtumes, e seu pai não apoiava sua vocação natural para as artes. Persistente, ele se manteve fiel a sua vocação natural e se tornou um famoso pintor renascentista da época. Dentre suas obras, a mais famosa é “o Nascimento de Vênus”.
Algumas curiosidades interessantes sobre a arte nessa época: as famílias ricas, que patrocinavam as pinturas, pediam aos artistas que seus rostos fossem reproduzidos no contexto do quadro. Lembrando que a fotografia foi inventada apenas 300 anos depois, a única maneira de ser retratado era pela pintura. Botticelli foi considerado um ótimo retratista e por essa fama foi muito disputado. No quadro “A adoração dos Magos”, além da representação dos rostos dos familiares de seu cliente (por muito tempo ele pintou para a família Médici), ele próprio aparece em auto retratado no canto direito dessa pintura.
Intimista
O artista empresta seu nome para essa casa em Guarulhos. Uma casa de vinhos que tem um restaurante próprio. Eu frequentava a casa quando era localizada na avenida Dr. Timóteo Penteado, mas desde que mudou, não tinha os visitado ainda. O estilo se manteve igual ao anterior, lembrando uma taberna, com iluminação reduzida, paredes de tijolo aparente, mesas de madeira rústica, lamparinas nas mesas. Um clima intimista, que combina bem com um jantar reservado.
Vinhos e mais vinhos
Um ponto bacana da casa é a seleção de vinhos para acompanhar a refeição. Ela ocorre na loja e não no salão onde ficam as mesas. Lá, você receberá todo suporte do time da Botticelli para escolher o vinho que mais se encaixa com seu gosto e com sua refeição. Os vinhos são vendidos ao mesmo preço que são oferecidos na loja, ou seja, não há um “sobre preço” por estar consumindo o vinho no restaurante. Divididos por países, o restaurante oferece uma ampla variedade de rótulos e a escolha do vinho acaba sendo uma diversão à parte. Minha escolha foi um vinho Português da região do Alentejo, o Quinta Já Pias. Cor intensa, aromas de frutas maduras e frutas vermelhas, com final de boca envolvente, sabor intenso e aveludado. Taninos suaves e final elegante. Um vinho tranquilo e relativamente simples, mas que seria um acompanhamento ideal para os pratos daquela noite.
Entrada
Três opções de Brusqueta. Fui na mais tradicional, a Bruschetta Pomodoro. Preparada com tomates picados, queijo e manjericão, a minha ressalva é o ponto do pão italiano. Elas ficariam ainda mais gostosas se as fatias de pão estivessem um pouco mais torradas, o que traria uma textura mais interessante para essa entrada.
Pasta e Riso
Os pratos que pedi foram contrastantes entre si. Falando primeiro da massa. Pedi um conchiglione recheado, servido ao molho parisiense. Suave e agradável, foi um prato de fácil consumo. Não tenho certeza se o molho base do parisiense era um bechamel ou molho branco. O tempero do parisiense e o queijo parmesão sobre o prato me atrapalharam na análise. Em adição, o Quinta Já Pias começava a mostrar sua cara e minha aproximação com Bacchus não podia mais ser negada. Longe de estar ébrio, minha análise do prato o classifica como suave e a combinação dessa massa com o molho parisiense deu certo, harmonizando de forma adequada com o Tinto do Alentejo.
O outro prato que pedi foi o risoto de funghi, que vem acompanhado com filé mignon. Esse prato tem um sabor mais forte e marcante do que a massa. Estão em posições opostas em uma escala de sutileza. Cada um atende adequadamente seu público específico, ou seja, a massa para os clientes da suavidade e risoto para os clientes do sabor mais forte. Esse sabor mais forte é puxado principalmente pelos cogumelos, que imprimem o sabor umami ao prato, sendo a característica predominante de paladar. Não é à toa que os cogumelos são chamados “a cara do umami”.
Umami
Umami, como assim? Exato! Mas não fique surpreso se você nunca ouvi falar desse sabor. Você não é o único. Apesar dele ter sido descoberto em 1908, pelo cientista japonês Kikunae Ikeda, da Universidade de Tóquio, foi reconhecido oficialmente pela comunidade científica apenas nos anos 2000, após identificarem os receptores específicos desse sabor na língua humana. O umami representa o gosto dos glutamatos e nucleotídeos. Sabe aquele temperinho japonês branco, que parece sal? Ele é glutamato monossódico. Há muita polêmica sobre esse assunto e várias pessoas me perguntam se o glutamato monossódico faz mal. A resposta é ainda mais controversa. Se ele faz mal? Sim, e não. Mas a explicação é simples. Pense na resposta das seguintes perguntas: sal faz mal? Açúcar faz mal? Óleo faz mal? Viu que a resposta é a mesma para essas perguntas, assim como para o glutamato: sim, e não. Se consumido com moderação, não, não faz mal, como tudo nessa vida.
País das bananas
A sobremesa escolhida nessa noite agradável foi a banana flambada, e ela fechou o jantar com chave de ouro. Não tinha como ser diferente, pois esse clássico reúne a base neutra do sorvete de creme, com o dulçor acentuado que o processo de flambagem imprime na fruta, liberando seus açúcares naturais. Voltado a Sandro Botticelli e a obra “O Nascimento da Vênus”, minha relação com esse prato não pode ser resumida ao amor carnal, é superior a isso, é um amor espiritual com essa sobremesa.
Botticelli
Endereço : Rua Santo Antônio, 968, Vila Galvão
Telefone : (11) 2656-1718
Site : http://botticellivinhos.com.br/restaurante/
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