A Justiça autorizou a apreensão da carga com 50 respiradores comprados pelo governo de Santa Catarina. Os equipamentos foram importados da China, chegaram no Brasil na segunda-feira (12). Até a noite dessa quarta (13) os itens aguardavam liberação alfandegária no aeroporto de Guarulhos para seguir em direção a Florianópolis.
O pedido foi autorizado pela 1ª Vara da Fazenda Pública da comarca de Florianópolis, que designou um delegado da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) para receber os aparelhos na Polícia Civil quando eles chegarem em Florianópolis. Até esta publicação a chegada desse primeiro lote com 50 respiradores na Capital ainda não havia sido confirmada. O endereço da Deic foi informado como local para entrega dos equipamentos.
A medida foi decretada pela juíza Ana Luísa Schmidt Ramos porque os modelos a serem entregues não correspondem aos contratados na dispensa de licitação. Depois da apreensão, caberá aos técnicos da Secretaria de Estado da Saúde avaliar a utilidade dos aparelhos e definir se eles serão instalados nas unidades de saúde. Caso contrário, o Estado pode requerer medidas compensatórias.
A apreensão foi autorizada em uma ação movida pelo Estado para requerer o ressarcimento aos cofres públicos dos danos causados pela compra dos ventiladores pulmonares. Esta ação está sob sigilo. Mas a menção a um pedido de busca e apreensão dos respiradores também aparece no inquérito de outra investigação sobre a compra dos respiradores – esta solicitada pelo Ministério Público de SC (MP-SC) após as denúncias sobre o caso virem à tona.
A possibilidade de apreensão dos respiradores é citada em um documento da Procuradoria-Geral do Estado apresentado no último sábado (9), após a Operação O2, que deflagrou 35 buscas em quatro Estados e apreendeu R$ 300 mil em um imóvel do Rio de Janeiro.
No documento, o procurador-geral adjunto para Assuntos Jurídicos de SC, Sergio Laguna Pereira, lista processos de investigação que já foram iniciados desde que os questionamentos sobre a compra vieram à tona.
O texto menciona ainda um pedido feito pela PGE em uma dessas ações. A solicitação foi autorizada pela 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital.
“Além disso, nesta mesma ação, estão também em curso novas providências cautelares requeridas pela Procuradoria-Geral do Estado, já deferidas pelo MM. Juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital, que visam à busca e apreensão de produtos (respiradores pulmonares) que estão em fase de importação pela empresa TS Eletronic do Brasil Indústria e Comércio Ltda, ou por outra empresa por si contratada para realizar essa importação a sua conta e ordem, sendo que tal operação decorre também originariamente de contratação/pagamento realizado pela empresa Veigamed, após o pagamento dos R$ 33 milhões”.
Os 50 respiradores são o primeiro lote dos 200 equipamentos comprados pelo Governo do Estado em uma negociação que custou R$ 33 milhões. Adquiridos para o combate à pandemia do coronavírus, os respiradores tinham como prazo de entrega inicial o dia 7 de abril. Após um mês de atraso, a compra motivou a Operação 02, deflagrada no último sábado (9) para cumprir mandados de busca e apreensão relacionados às supostas irregularidades no processo de compra.
Na segunda (11), a Justiça retirou o sigilo da apuração, que aponta que foi o ex-secretários Douglas Borba, da Casa Civil quem indicou alguns dos empresários que participaram das tratativas com os servidores públicos. O MPSC chegou a pedir a prisão temporária dele e de mais sete pessoas que estariam envolvidas na aquisição, mas o Poder Judiciário negou a solicitação.
Segundo a investigação, a proposta da Veigamed foi recebida pela servidora da Secretaria de Saúde Márcia Regina Pauli, por meio de Fábio Deambrosio Guasti, indicado por Douglas. Ele prometeu a entrega do primeiro lote de 100 respiradores para os dias 5 e 7 de abril, o que não aconteceu.
Guasti é citado no inquérito por atuar como representante da companhia em todas as fases do processo de compra. Outra pessoa incluída no inquérito é Leandro Adriano de Barros, que, segundo as autoridades, é a pessoa de confiança de Borba.
Para o MPSC, há indícios de que Borba e Guasti agiram na defesa dos interesses da empresa de fachada responsável pela concretização do negócio. E que o então secretário da Saúde, Helton Zeferino, dispensou a licitação e autorizou a despesa no dia 30 de março, sem qualquer documento assinado pelo representante e sem a formalização do contrato.