De volta ao lar
Quem nunca ouviu a expressão “viajar é bom, mas voltar é melhor”. Para mim é uma frase verdadeira. Claro que foi uma experiência muito rica conhecer de perto a cultura da Índia, o contato com uma gastronomia totalmente diferente da nossa e ainda ter a oportunidade de conhecer lugares fantásticos como o Taj Mahal, uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Estar na Alemanha após alguns anos foi nostálgico. As feiras de rua, por motivo da época natalina, são lindas. Vivenciar experiências engraçadas como deixar as cervejas recém compradas do lado de fora da casa para gelar, apenas tomando cuidado para não as esquecer ali, caso contrário congelam, digamos assim, não é algo nada comum para nós. Ainda de quebra passar um dia na Suíça e almoçar um delicioso e típico Fondue foi memorável. Apesar de todas essas experiências bacanas, enfrentei o frio pré-inverno do sul da Alemanha. Estou falando de temperaturas que variavam de 5 graus negativos a 2 graus positivos. Por mais que se use roupas adequadas para esse clima, nós, moradores dos trópicos, não estamos habituados a tanto frio. O frio dói. Não há casaco que resolva o fato de você estar respirando um ar que está a -5°C. Luvas e botas não vão proteger o frio batendo nos seus olhos. Costumo dizer, o calor incomoda, mas o frio dói. Confesso que no final dessa minha viagem já estava com saudades do calor dos trópicos, e foi isso que me motivou a visitar o Mandacaru. Comer uma comida típica brasileira, e poder me refrescar desse calor senegalês com uma boa gelada.
Flor do Nordeste
O Mandacaru é um restaurante cachaçaria simpático. Sua decoração é temática sem ser exagerada. Possui uma ótima carta de cachaças e boa variedade de pratos. O salão é grande e o pé direito altíssimo dão ao ambiente uma sensação agradável de amplitude. No passado esse endereço já foi o local de outros restaurantes e empórios e que por um motivo ou outro não continuaram as atividades. Agora, há mais de um ano, o Mandacaru é que dá as ordens por lá.
Ele segue a linha mais descontraída, com mesas e cadeiras de madeira cobertas com um jogo americano. Uma proposta que permite que o espaço seja tanto ocupado para se fazer refeições, como atende perfeitamente quem vai lá apenas para um happy hour. Eles também oferecem vários rótulos de aguardente para consumo ou venda ao público. João Almeida é o sommelier que assina a carta de cachaças oferecidas pelo Restaurante. Já mencionei em outros textos que aquela história do nascimento da cachaça por um acidente na produção do melado pelos escravos, que deixaram a mistura azedar sem querer e depois voltaram para o fogo etc, é falsa. Não vamos entrar em detalhes, mas essa fake news era atribuída ao Museu do Homem do Nordeste (Recife), que já declarou que essa história nunca foi contada em nenhum de seus escritos, exposições ou qualquer outro documento do museu. O termo “aguardente” já era usado na Europa muito antes de Cabral pisar aqui pela primeira vez. Fato é que a nossa cachaça não tem uma data de nascimento documentada. A hipótese mais aceita é que nasceu em 1532 na então Capitania de São Vicente (SP).
Com o pé direito
Já comecei matando a saudade com dadinhos de tapioca acompanhados com molho agridoce de pimenta. Não via a hora de chegar a entrada para tomar com minha cerveja, curtindo a temperatura natural do ambiente (maior que -5°C). É engraçado após tantos dias em um clima frio, você sentir tanta falta do calor.
Parece que o calor entrando pela pele e aquecendo o corpo até chegar nos ossos. A cerveja puro malte gelada e a porção de dadinhos de tapioca com molho de pimenta foram sem dúvida um “confort food” naquela hora. Sensação de “acolhimento” pela comida. Sentir-se em casa, em território conhecido, saber o que esperar no sabor e isso te trazer aconchego. Isso é confort food.
Boi bão
Pedi dois pratos. Um foi o cupim assado e outro a linguiça artesanal com ervas. O cupim estava derretendo e quase caia do garfo quando era pinçado da chapa quente que foi servido. Já estava a quase 20 dias sem comer carne de boi. Tanto na Índia como na Alemanha, o comum é porco, frango e peixe. Se cada região tem seu produto típico, como por exemplo os queijos na Europa, nós aqui somos abençoados (vegetarianos que me desculpem) por uma fartura de carne bovina a preços acessíveis. O cupim na manteiga é assado na brasa e servido com farofa, pimenta biquinho, arroz e feijão, aliais, por mais que não coma tanto arroz com feijão, após 20 dias comecei a sentir abstinência desse combinado.
A linguiça artesanal é oferecida em três variações: apimentada, com alho e com ervas. Eu escolhi a com ervas. Ela é servida com vinagrete, pão e vem coberta com cebolas roxas refogadas. Bem sequinha, ela tem pouca gordura em sua composição. Por outro lado, é muito rica em temperos. A opção que escolhi era muito permeada pelas ervas que a compõe. Linguiça com vinagrete e pão é uma combinação infalível na minha opinião. Tanto o dadinho, como o cupim e a linguiça foram muito bem acompanhados por uma geladíssima cerveja de Santa Catarina. A noite e o calor me fizeram ser um pouco prudente e maneirar no prato, mesmo querendo repetir e repetir, contive minha gula.
Cartola
Para fechar a noite fui de Cartola, uma sobremesa bem típica do Nordeste. Esse prato, não muito conhecido por nós do Sudeste, é um “pop star” de Fortaleza. Seu preparo é relativamente simples pois é feito com bananas assadas ou fritas e coberto com queijo manteiga derretido e polvilhado com açúcar e canela. Uma sobremesa que vale a pena ser experimentada. Seu sabor é agradável por trazer um toque ligeiramente salgado do queijo de manteiga. Ele também é a principal sobremesa do restaurante Leite, em Recife. O restaurante Leite está entre os cinco restaurantes mais antigos do país:
Café Lamas, Rio de Janeiro (RJ), 1874
Carlino, São Paulo (SP), 1881
Leite, Recife (PE), 1882
Rio Minho, Rio de Janeiro (RJ), 1884
Bar Luiz, Rio de Janeiro (RJ), 1887
Por hoje é só.
Assim termino meu texto, deixando mais uma dica de restaurante para ser visitado. Aproveito esse final de texto para desejar a todos os leitores meus votos de Feliz Natal e um 2019 com várias descobertas gastronômicas, cheio de sabores e aromas. Vamos dar uma pausa em nossa coluna e retornar na segunda quinzena de janeiro. Paz, saúde, alegria e um 2019 fantástico para cada um de vocês.
Até 2019 !
Mandacaru
Endereço : Av. Salgado Filho, 1798,
Telefone : (11) 2806-9282
Site : http://mandacarucachacaria.com.br/
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